"Estávamos entre tres, na sala. Eu, ele e um amigo em comum, quando ele resolve desabafar. Meus olhos imediatamente dobraram de tamanho arregalados e com medo do rumo que o diálogo poderia tomar.
- Eu não sei direito o que eu faço. Ela ta arrependida.
- Pediu desculpas? Ela pelo menos se explicou?
- Não, mas eu senti sinceridade nela.
- Tu ainda gosta dela, não é mesmo? Deveria assumir, não pra mim, mas pra ti mesmo.
- A gente teve uma história juntos.
- Todas as histórias tem finais.
- Felizes, o que não foi o caso. Acho que precisamos de mais tempo pra isso...
Resolvo intervir.
- Talvez vocês já tenham vivido o final feliz de vocês, e não perceberam.
Ele me olhou fixamente por uns segundos e nós três sentimos o clima tenso, quando a namorada do Gu, o amigo, volta da cozinha.
O diálogo entre os dois persiste.
- Talvez esse romance de vocês seja um livro muito grande.
- Um Livro? – e ele ri deliciosamente – Nunca vi por esse ângulo.
- É, ou uma tragédia de Shakespeare.
- Não, creio que seja um romance mesmo, com muitas páginas que...
-... que já está cansativo pra quem lê – penso, mas pelo silencio percebo que isto foi dito e não apenas pensado, pego aquela taça de vinho e numa fração de segundos o álcool percorre minha corrente sanguínea.
Ele fica pensativo, e está visivelmente abatido com o romance. E eu, ainda temendo o rumo da história, entornava mais um gole considerável de vinho.
- Eu ainda amo ela.
Pronto. O chão sumiu, o vinho parecia ter pedras, e as coisas ficaram nebulosas em questão de segundos. Tento me recuperar. Eu sabia o final da história. Eu temia que fosse o final.
Intervi novamente.
- Talvez se transformasse esse romance longo em crônicas, não estivesse tão abatido. A próxima história estaria ali, na próxima página. Um novo incio, um novo romance. Nem sempre o final feliz é o que a gente imaginou.
Depois disso, mais um silencio tenso, e a sábia decisão de mudar de assunto."
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