Quando eu tava entrando na adolescência

rolava um ritual quase que sagrado entre minhas amigas: toda saída que davam, deveriam ter pelo menos um nome de garoto beijado naquela noite para escrever nas suas famosas (e extensas) listas de ficadas. Não ter um nome novo era por um nariz de palhaço e agüentar risadinhas e eu, sempre agüentando essas risadinhas e as teses e questionamentos de porque eu sempre era a única a nunca ter um nome novo. Na verdade nunca me importei em sair e não beijar uma dúzia de desconhecidos, achava, bem no fundo e escondido pra mim, vulgaridade em demasia, libertinagem gratuita pra QUASE adolescentes que éramos. Possivelmente devido a não me enquadrar em nenhum padrão de beleza, já que sempre fui acima do peso, meu cabelo nunca foi liso e minhas bochechas são enormes, desenvolvi outras importâncias pra minha vida. Era (e ainda é) muito mais importante uma boa musica e uma boa companhia pra conversar e falar sobre tudo e nada, do que só uma boa boca pra beijar que eu nunca vi e talvez nunca mais queira ver. Minha vida sentimental sempre foi contraditoriamente bagunçada: seguidas paixões e poucos romances. Ainda que sendo pressionada pelo ritual sagrado das amigas, nunca me senti a vontade de sair por aí beijando qualquer um. Na verdade a gente entende, quando amadurece, que muito mais vale a qualidade que a quantidade. Vez ou outra, quando converso com as amigas dessa época, elas comentam “lembra do fulano que eu fiquei aquela vez?” e é obvio, eu não lembro. Não sei o quanto valeu a pena aquela “diversão toda”, mas a mim nunca fez falta. Talvez por estar fora dos padrões, eu me acostumei a não ter todas as opções que eu queria. A maioria dos meus romances foram desastrosos e eu sempre tive um “gosto” que não era compatível com a pirralhada que freqüentava os mesmos lugares que nós. Nessa idade que eu citei aqui, a gente sempre ta querendo provar alguma coisa pra alguém. No meu caso o primeiro beijo foi a síntese disso: só dei o beijo pra provar que eu podia, assim como foram a maioria dos casos da época que eu andava com essas amigas. E, mesmo tendo plena consciência de que era babaca essa atitude eu fazia, em uma freqüência bem menor do que a demanda de aprovações pela qual eu passa, é verdade, mas ainda assim fazia. Mas isso tudo me fez amadurecer melhor, e mais rápido do que a amigas que hoje tão casadas, embarangadas e levando suas incríveis vidas de donas de casa. Já diria o sábio: cada um tem o que merece.