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Perdi muito tempo tentando entender porque acabou. Muito tempo mesmo, e foi um tempo que não passou rápido, e cada dia parecia mais dolorido, mais pesado e sem sentido. “Era amor, eu sei que era” era o que eu pensava. Depois desse tempo todo de reconstrução, eu me encontrava com um escudo na mão, esperando o momento em que você aparecesse, e resolvesse conversar. Eu estava aqui, escudo em punhos e com todas as armas que pude recolher durante todo esse tempo, pra poder usar contra você. Mas no fundo eu estava tranquila, porque sinceramente, eu não esperava que isso acontecesse. Estava preparada pra algo que eu julgava que era quase nula a possibilidade de acontecer.. e aconteceu. Acabou sendo totalmente inesperado, apesar da preparação na qual eu passei, e não foi nem um pouco da forma como eu planejei. Enfim, você na minha frente. Em todas as noites que eu ficava plantada na frente do espelho, decorando todas das minhas falas, os xingamentos e os eu-não-te-perdôo, nunca imaginei que você não pediria perdão, muito menos tentei imaginar porque acabou, nem imaginava que você estaria feliz, e que eu invejaria profundamente isso. Você costumava ser mais previsível, e essa sempre foi a sua principal caracteristica. Ora, eu planejei o dia em que nos conhecemos, planejei nossa primeira viajem. Eu planejava uma vida juntos, planejava nosso negocio próprio, e já havia até escolhido o nome dos nossos filhos justamente porque eu sempre sabia qual seria o seu próximo passo. Eu escrevia o nosso romance, enquanto você coadjuvava em tempo integral. Eu deixei você ser o coadjuvante, porque você não tem, nem nunca teve o perfil de protagonista de uma história. Mas você queria era um amor desses de cinema com um casal romântico contando uma história de amor, enquanto o que eu poderia te proporcionar era auxiliar a minha atuação no nosso relacionamento. Eu agia assim, porque sabia que você sempre faria a pior escolha, e sempre escolheria a cena mais obvia. Quer dizer... eu estraguei tudo, né. A intenção, obviamente, nunca fora essa. Foi te encontrar feliz, que eu percebi isso, numa fração de segundos. Precisou viajar, encontrar um amor em outro país, doer de saudade e achar que nunca mais vai vê-la, sentir amor até parecer que vai implodir pra ter coragem de me perdoar, por algo que eu nem imaginava que tinha feito, e me culpar com um ar blasé. Admito que nunca pensei dessa forma e que eu jamais colocaria a culpa em mim. Mas entendi. Eu estraguei tudo, me senti um trapo por tempo indeterminado por culpa minha, enquanto você protagonizava a cena da sua vida, o romance da história, com um daqueles beijos de cinema e final feliz, com um para sempre estampado na sua testa. Extremamente previsível. Por incrível que pareça me senti bem ao saber disso. E sabe porque você nunca protagonizou minha história? Porque enquanto eu vivia ela, você mal decorava seus textos, não lembrava das suas falas, inventava esse amor. A minha hisórtia sempre esteve mais pra filme de ação, mesmo minimamente calculado, do que que um drama romantico, como os que você gostava de assistir. Por isso o seu papel parecia mais com um figurante, mas como eu gostava de você, precisava de um par pra minha história, você era lindo e tinha um bom gosto indiscutível, te dei o papel pra atuar como coadjuvante. Por isso não planejava cada passo atoa, planejava tudo mesmo, eu tinha calculado as cenas, e tinha escrito o final. Era a minha história, mas estranhamente o final era aquele em que você se sentiria feliz, porque dessa forma eu imaginava que também estaria. Planejei tão bem, que nem percebi quando meus cálculos deram certo. Quer dizer, deram certo pra você, obviamente. Parece que, enfim, você se tornou protagonista de um romance, como sempre quis. Eu continuo aqui, só que agora, na minha história de ação fui desarmada, meu escudo foi quebrado pelo meu próprio ego e me sinto totalmente desamparada. Planejei bem seu final feliz, calculei o meu errado e desisti completamente de saber qual vai ser meu próximo passo, até porque eu nunca saberia qual vai ser mesmo. O seu eu sei. Essa talvez seja a grande questão de tudo que aconteceu... eu planejei tanto e tão bem porque você é completamente previsível.

Essa comédia romântica é a tua cara, mesmo. Vai lá, quero ver você escrever sozinho sua própria história.