Não gosto da forma como a gente julga os sentimentos ditos ruins nas outras pessoas. Às vezes os sentimentos tem uma conotação ruim, mas acabam sendo executados de outra forma, necessários às vezes, e os jure nem sabe por que. Não falo de negativismo, egocentrismo, individualismo. Falo de egoísmo, interesse, prepotência, arrogância. Falo a gente, por que eu escrevendo e tu provavelmente lendo julga que esses sentimentos que eu citei são ruins. E pessoas que usam eles são pessoas más. Na verdade eu sempre acreditei que fosse até descobrir que eu preciso delas.
Eu acredito que essa separação entre sentimentos bons e ruins começa na quando a gente define os traços da personalidade. Sei lá, é como se quando a gente começasse a deformar (ou formar, como queira) a nossa personalidade, ganhássemos uma caixinha cheia de sentimentos estranhos misturados e uma tabela, e tivéssemos que separar sem saber do que se trata nem o que é, entre bons (aqueles que só as pessoas boas devem ter, como os heróis, os mocinhos e todo resto que vai pro céu) e ruins (que só as pessoas más sentem – vilões, usurpadores e aproveitadores). Como a gente não faz idéia do que aquelas palavras representam e o medo de errar já acompanha a gente, seguimos um modelo pré-estabelecido, a tabelinha vulgarmente conhecida como hipocrisia.
Pois bem, eu sempre deixei claro que eu mudo de idéia fácil, não tenho compromisso com erro, e até hoje essa minha “caixinha” tem todos os sentimentos misturados e a tampa aberta... vez ou outra eu tiro uma delas pra fora, uso muito e classifico.
Quando me acontece algo que aquela tabelinha julga “ruim” ou “errado”, eu separo esses sentimentos como me convêm, classifico como bom.
A verdade é que a gente vive uma vidinha medíocre de aparências, certezas e acertos e na pior das hipóteses aceitação e conformismo. Te conformas com o que tu tens e tenta deixar sempre a palavra felicidade em cima do resto todo, pra MOSTRAR que tu és feliz. E quando aparece alguém sem saco pra equilibrar a realização lá em cima, e corre atrás da felicidade, mesmo que por meios nada convencionais e sem a tabelinha pra mostrar o que é bom e ruim todo mundo julgas os sentimentos e intenções ruins, tu te tornas uma pessoa má. Mas isso é tão errado quanto os meios tortos que a gente arruma pra correr atrás.
A verdade é que as pessoas gostam de separar tudo na vida pelo convencional e não-convencional, por pura preguiça de vasculhar a caixinha de sentimentos, provar cada um e concluir o que é bom ou ruim. O nível de bondade ou maldade dos teus sentimentos na no teu grau de hipocrisia, mas isso só tu sabe.