freeze without an answer, free from all the shame

Acreditava que havia posto o fim. Não pensava, não lembrava, não queria. Foi difícil o fim, realmente. Precisou fugir de si mesmo, esconder-se da sua própria vida e criar uma nova e, exatamente por isso, acreditava no fim que havia dado. Involuntariamente criou essa nova vida. Mudou de cidade, de amigos, mudou as roupas e até mesmo o jeito de sentar, porque sempre lembrava dele em pé, com um copo de cerveja e vestindo a camisa do seu time olhando para ela; sempre dissera que admirava-a tanto, que até mesmo seu jeito de sentar o fazia cada vez mais apaixonado. Foi um jeito meio estranho de por um ponto final na própria história, mas foi o jeito que ela encontrou de não se afundar naquela lama que havia virado o seu relacionamento. Ou melhor, a lama que virou a sua vida após o fim do seu relacionamento. Percebeu que não havia superado o fim. Percebeu que acreditava que não pensava porque fugia sem notar de qualquer objeto, qualquer lugar que lembrasse ele. Ficou em duvida se sentia alguma coisa quando resolveu conversar sobre o que havia feito ela chegar até onde estava. Lentamente toda aquela certeza de não pensar, não lembrar e não querer foi se transformando em um ponto de interrogação e quando questionada se não sentia ficou sem palavras. Não sabia responder porque, afinal, nunca se permitira se quer lembrar. E quando achou que já poderia dizer que superou.. engasgou; essa pergunta roubou o chão dos seus pés. Não demonstrou. Criou prontamente uma resposta inteligente e gritou-a como se acreditasse. Mas tal atitude lhe deixou mais confusa ainda: Como pode alguém tão certa de suas atitudes e de seus (des)amores não saber responder se não sentia mais nada, quando acreditava veementemente no fim que pusera? Repentinamente tudo lhe pareceu claro e obvio: essa história precisava de um fim, apesar do ponto final de colocara. Histórias tem finais felizes, não somente pontos finais. Seu ego passou a atormentá-la. Ora, como poderia narrar uma história da qual desconhecia o final?! Procurou-o depois de anos, e a surpresa foi inevitalvel: descobriu que mesmo depois deste tempo todo não tivera uma só noite em que não pensava onde ela estava e o que fizera. Passou uma semana com ele, só pra que lembrasse do quanto era apaixonado e tudo que faria por ela. Resolveu fugir novamente, mas sabendo que poderia voltar a qualquer momento e fazer aquele fim quantas vezes quisesse. Era o final que precisava. Acreditou, então: sentia, queria mas não precisava. Ela não seria ela se não fizesse isso.

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