só de pensar aquilo estufava, enchia de uma sensação diferente de tudo que tinha sentido. Era uma mistura de vontade de rir, vontade de chorar, preocupação e uma saudade instantânea. Arrepiava e ao mesmo tempo deixava flutuando. De repente um nervosismo, uma vontade louca de sumir e uma vermelhidão. Toda vez era isso, esse mix de sensações. Algo que por mais detalhista que fosse, nunca conseguiria descrever. Todos os romances que tivera, não chegaram à metade dessas sensações, eram tão superficiais perto desse. E esses sentimentos eram tão freqüentes que se tornaram um vicio. Precisava sentir aquilo, precisava viver aquilo. Tomar uma dose desse vício que nem se quer uma explicação tinha. No inicio era controlável, doses homeopáticas na hora de dormir, ou quando ouvia uma musica que a lembrasse dele. Depois era quase uma religião, precisava daquilo. Não, uma religião não, uma obsessão. Passava noites e claro vasculhando cada canto virtual da vida dele, odiava cada palavra de carinho que ele escrevia para outras pessoas, e interpretava todas elas como se fosse para ela. Apesar de ser louco, de ser platônico, e de ser patético, era de verdade. Era nobre e era sincero. Toda a raiva e toda a angustia girava em torno daquilo. Aquilo era realmente uma droga, uma obsessão compulsiva por uma projeção de coisas voláteis. Conhecia a família, por onde andavam, quais viajens planejavam, conhecia os amigos, as histórias. E isso tudo sem nunca ter visto nenhum deles, e nem ele. Na verdade ela nunca se quer trocou uma palavra com ele. Ele era simplesmente o que ela sempre soube que precisava: os gostos, o romantismo dosado, o sotaque e o olhar caído. Há quem diga que foi o maior de todos os amores – reais e irreais. Se é que se pode chamar de irreal isso. Por muito tempo conseguiu manter essa coisa, como descrevia, em silêncio. Mas aos poucos as mudanças de humor típicas de quem esta apaixonada foram ficando cada vez mais visíveis, ao ponto de levantar suspeitas. Mas ninguém conseguia identificar o que acontecia. Quando resolveu falar recebia em troca o silencio e logo após a sentença quase que unânime: tu ama o que? Esse amor não existe. E isso a destruía. Como pode não existir? Era a obsessão mais doce, mais sincera e mais viciante que tivera. E arriscava dizer ainda, que era o amor mais verdadeiro: o que não espera receber absolutamente nada em troca … até porque é um amor de ida sem volta- ele não tem idéia da existência dela e quatro estados os separavam. Ela na condição de corte, e ele de reino. Resolveu tratar essa obsessão com uma receita simples: um email, uma passagem de avião e uma vontade imensa de destruir o imaginário e tornar tudo real. Apesar de saber que aquilo era i impossível, ainda existia nela a esperança de que da mesma forma com que descobriu esse sentimento, ele sentisse a mesma tremedeira, o coração disparar, a vermelhidão e aquela coisa estufando o peito. Não custava acreditar que o impossível pudesse tornar-se realidade. E, pelo que ela havia descoberto sobre ele nas noites insones que vasculhava sua vida na internet, isso era o que mais lhe atraia em alguém. Tem como duvidar de um sentimento desses?
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