Me peguei, numa tarde dessas frias e cinzas e tediosas e pesadas, deitada olhando para o teto, pensando em nada, absolutamente nada. Levantei para fazer um café quente - e forte. Liguei o rádio e dancei. Dancei como se estivesse em uma pista de dança, sendo observada e admirada. Quando o café ficou pronto peguei-o e fui para a janela. Não havia nada na direção da janela que o olho pudesse alcançar, que não fosse o verde da grama, das árvores e o cinza nublado do céu. O sol, encabulado, chegava timidamente esquentando onde conseguia chegar. O vento frio, o sol quentinho, o café forte e a mente livre... suspirei com a certeza de que aquele momento era único. Como era bom te ter ainda no coração, e ainda assim poder deixar minha cabeça livre. Isso se tornou algo imprescindível pra que eu conseguisse enxergar essa beleza toda da vida. Em algum momento comecei pensar em ti... Mas agora, lembrar de ti é algo que não mais me machuca. Não sei exatamente em que momento eu consegui tirar o peso que era te amar de cima de mim. É algo que a gente tem que estar muito maduro pra perceber. Tem que se conhecer, se reconhecer, se perder em si mesmo e conseguir se reencontrar. É difícil. Mas eu consegui. Ainda te amo, e acho bem pouco provável que um dia deixe esse sentimento ir embora. Mas não é mais algo que me intimida, que me faz sofrer. Agora, é algo que me alimenta, que fica ali, no lugar certo, e surge no momento certo só pra dar um oi e lembrar que ele ainda existe. Algo como um adesivo de nicotina, que vai liberando aos poucos a substância, pra enganar o corpo e a cabeça, e te fazer acreditar que pode viver sem um cigarro. Hoje eu entendo que não teria dado certo naquele momento em que a gente tentou – e a gente tentou tanto... E talvez nunca desse certo. Tem coisas que só acontecem pra provar pra gente que não poderiam nunca ter acontecido. E a gente foi um desses casos. Não consigo explicar exatamente o que eu sinto quando penso em ti. É um misto de saudade do teu cheiro, do teu beijo, das tuas mãos, com arrepio e um alívio, quase que imediato, da certeza de que tu está tão longe de mim, que eu quase esqueço como é teu rosto. No entanto, ainda assim, vem a certeza absoluta de que é amor o que eu ainda sinto. E que, esse alívio é só uma defesa de um coração cansado de brigar com a razão e que resolveu ceder. Acontece. Aconteceu. Quando saí desse quase transe, consegui perceber: até quando eu penso em absolutamente nada, eu penso em ti.

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