O eixo


Eu li em algum lugar, uma vez, que a tarefa mais difícil na vida era existir. Mas eu acho que a tarefa mais difícil  é manter o próprio eixo, sem querer que alguém ajude.

Eu tenho uma característica que, embora muita gente considere ser algo louvável, só me atrapalha: Eu não reclamo. Nunca. Quem me conhece bem sabe que, raras vezes – pra não dizer nenhuma – me viram reclamando. Reclamar da vida, da comida, do lugar que eu estiver, do tratamento que eu recebo ou do que eu tenha que fazer, eu realmente não sou de reclamar. Sempre que eu vou achar a vida um saco, um tédio, que eu to cansada, que eu queria tanta coisa que eu não tenho, eu instantaneamente me privo disso. Minha consciência buzina um alarme chato e decorado que diz: tem gente que não tem isso, tem gente que não tem o que comer, tem gente que não pode, tem gente que daria a vida por isso, tem gente que tá morrendo e blá blá blá. Eu me policio em tudo que eu possa pensar em reclamar. E eu deixo de externar tudo que eu acho ruim, por pensar estar reclamando de barriga cheia ou que possa parecer uma atitude mimada diante às situações que minha consciência coloca.  Eu sei que eu tenho direito de reclamar, de achar a minha vida um saco, e que tudo dá errado. É o meu eixo. A minha dimensão. Eu gostaria de simplesmente reclamar. Reclamar que eu to sem dinheiro, que eu não conheço ninguém com quem eu consiga realmente me abrir e dizer o que eu sinto sobre qualquer coisa, reclamar do controle e zelo excessivo que tem à minha volta, do cuidado que as pessoas têm comigo quando sabem da minha história, reclamar que meu cabelo é uma bosta, que eu não tenho roupa, que eu não tenho pra onde ir, que eu detesto a decoração do meu quarto, que eu não tenho o que beber, que eu detesto cozinhar, que eu acho um problema remarcar qualquer coisa que eu tenha combinado e é só dá um jeito que a gente consegue as coisas, que eu não suporto quando falam pra mim que não podem ou que não conseguem ou que não sabem, que eu preciso de alguém, que a conta ta cara, que a vida tá injusta.  Mas não dá. Simplesmente não dá. Eu tenho a mania insuportável de achar que ninguém quer me ouvir e não percebo que eu ouço todo mundo reclamando de coisas tão superficiais, tão chatas, tão fáceis  e tão obvias, que eu desligo enquanto as pessoas falam e digo frases prontas (aliás, não sei o que acontece que todo mundo adora me contar problemas, me achar confiável). Fico transtornada quando faço algo certo que alguém possa achar egoísta ou falso, fujo de qualquer coisa que possa lembrar. Sem contar a culpa que coloco em mim por ter feito. Eu sou chata, eu sou insuportavelmente chata. Eu faço tudo certo, quando na verdade queria fazer o contrario, só por que eu sei que é certo. 

A verdade é que eu gostaria de ser infinitamente menos tolerante com o que acontece à minha volta, e mais tolerante comigo. Mas não dá, eu não faço nada disso. Eu fico mantendo sozinha esse eixo que eu criei. E só eu sei que existir, perto desse malabarismo, é a coisa mais fácil do mundo.

Unilateral


Eu sinto muito. Sinto tanto que a pele arrepia. Sinto uma viagem pro litoral toda planejada, sinto as brigas, sinto os beijos, sinto o cheiro. Sinto tanto.  É um querer tão grande, tão forte, que eu chego a acreditar que existe. Sinto saudade, sinto raiva, sinto amor. Muito amor. É tanto sentir que eu não sei explicar o que eu sinto, muito embora consiga falar. Piegas, eu sei, mas lembro que começou exatamente como nos romances do cinema.  Toda noite sinto teus braços em volta de mim, sinto a respiração no meu ouvido de quem caiu em sono profundo.  Sinto o dia em que vou ser apresentada pra tua família. Sinto tua cabeça no meu colo, depois de um dia duro no trabalho, sinto as palavras confortando os momentos difíceis, sinto o silencio necessário. Sinto a felicidade de não fazermos nada juntos, ou irmos jantar. Sinto a dor por ter dito alguma besteira que acarretou uma briga tola. Sinto teu ciúmes. Sinto meu ciúmes. Sinto todos os planos, que nunca são a longo prazo, por que eu te ensinei que planejar o futuro é muito chato. Aliás, sinto tudo que tu não me ensinou, e que mesmo assim eu aprendo só te observando. E como eu adoro te observar. Sinto as mensagens de bom dia, todos os dias. Sinto tanta falta de simplesmente te ver, de te olhar, de viver um amor que é algo do qual  eu nunca senti antes. É tão real, é tão intenso, que eu sinto comigo a toda hora. Uma saudade arrebatadora aperta o coração quando toca uma musica que eu acho que seja “a nossa música”. Sinto um vazio em todos esses espaços que tu preenche sem saber, que fazem parte dos meus pensamentos ao longo do dia e que me fazem lembrar de ti por qualquer coisa que eu faça, e que acalentam meus sonhos durante todas as noites que eu durmo pensando em ti. Sinto tanto, tanto. Eu sinto tanto o fato de não ter tido a oportunidade de dividir isso contigo, sinto que tu não sinta isso junto comigo mas eu sinto muito mais por nada disso ser uma verdade tua também.

Marla - diva - De Queiroz

Escuta: o que te dou não é por você, mas por mim_ se tenho amor demais, eu preciso deixar derramar até que tudo escorra e que haja um total esvaziamento. E, novamente, eu me sinta plena do vazio. (Porque também preciso da purificação do não-sentir para me entregar de novo plenamente). Não interessa se amor demais te envaidece, envaidecer-se é uma forma de não se achar merecedor, caso contrário, receberia tudo com natural tranquilidade. Mas não é sobre você que quero falar, é sobre o amor que escorre pela ponta dos meus dedos, que me enche os olhos e a boca d’água. É por esse amor que eu respiro fundamente e sinto alegria. Você é só um foco do que tenho transbordando. Nada além do não-definitivo com a sensação de eternidade. Você é a energia que sinto, puro movimento e luz. Amo para conhecer-me e tudo me escapa: o que sabia sobre mim se transforma no que ignoro e o que não havia me tornado me fascina, mas não consigo tocar se reconheço. Esse é meu processo de melhoramento: saber-me ilimitada, transitória. (Se ficares longe ou aproximar-se, o amor será o mesmo, esse outro do “pra sempre, agora”).
Escuta: eu não preciso fechar os olhos para ver por dentro a profusão de cores. Eu não preciso usar palavras pra dizer da comunhão das coisas. Eu não preciso estar embriagada de um amor concreto para ver beleza em tudo. Ele está em mim, eu estou nele e onde eu for, chegaremos juntos.
Se alguém se assusta ou se comove, é ser-espelho.
 Escuta: o que te dou é meu. E isso ninguém roubará de nós.

Tem esse e outros textos na página dela do facebook ou no blog TransFLORmar-la.

Me peguei, numa tarde dessas frias e cinzas e tediosas e pesadas, deitada olhando para o teto, pensando em nada, absolutamente nada. Levantei para fazer um café quente - e forte. Liguei o rádio e dancei. Dancei como se estivesse em uma pista de dança, sendo observada e admirada. Quando o café ficou pronto peguei-o e fui para a janela. Não havia nada na direção da janela que o olho pudesse alcançar, que não fosse o verde da grama, das árvores e o cinza nublado do céu. O sol, encabulado, chegava timidamente esquentando onde conseguia chegar. O vento frio, o sol quentinho, o café forte e a mente livre... suspirei com a certeza de que aquele momento era único. Como era bom te ter ainda no coração, e ainda assim poder deixar minha cabeça livre. Isso se tornou algo imprescindível pra que eu conseguisse enxergar essa beleza toda da vida. Em algum momento comecei pensar em ti... Mas agora, lembrar de ti é algo que não mais me machuca. Não sei exatamente em que momento eu consegui tirar o peso que era te amar de cima de mim. É algo que a gente tem que estar muito maduro pra perceber. Tem que se conhecer, se reconhecer, se perder em si mesmo e conseguir se reencontrar. É difícil. Mas eu consegui. Ainda te amo, e acho bem pouco provável que um dia deixe esse sentimento ir embora. Mas não é mais algo que me intimida, que me faz sofrer. Agora, é algo que me alimenta, que fica ali, no lugar certo, e surge no momento certo só pra dar um oi e lembrar que ele ainda existe. Algo como um adesivo de nicotina, que vai liberando aos poucos a substância, pra enganar o corpo e a cabeça, e te fazer acreditar que pode viver sem um cigarro. Hoje eu entendo que não teria dado certo naquele momento em que a gente tentou – e a gente tentou tanto... E talvez nunca desse certo. Tem coisas que só acontecem pra provar pra gente que não poderiam nunca ter acontecido. E a gente foi um desses casos. Não consigo explicar exatamente o que eu sinto quando penso em ti. É um misto de saudade do teu cheiro, do teu beijo, das tuas mãos, com arrepio e um alívio, quase que imediato, da certeza de que tu está tão longe de mim, que eu quase esqueço como é teu rosto. No entanto, ainda assim, vem a certeza absoluta de que é amor o que eu ainda sinto. E que, esse alívio é só uma defesa de um coração cansado de brigar com a razão e que resolveu ceder. Acontece. Aconteceu. Quando saí desse quase transe, consegui perceber: até quando eu penso em absolutamente nada, eu penso em ti.

Ouvi hoje, no ônibus um diálogo interessante, de onde surgiu a conhecida frase: “sou mulher, sou do sexo mais frágil”. Nesse momento aconteceu uma longa discussão sobre não sermos sexo frágil, somos fortes, votamos, trabalhamos, dirigimos, chefiamos, somos tão boas quanto os homens. Nunca soou tão machista isso, aos meus ouvidos, quanto vindo de uma mulher. Concordo, sim, que nós mulheres não somos o sexo frágil. Mas a força a que me refiro e que conheço, não é física ou de vontade (essa de lutar, vencer na vida, votar e dirigir). É uma força intelectual e, sobretudo, emocional. E acredite: não há ser mais forte e intenso nas suas emoções, do que nós mulheres. Por mais que consigamos parecer descontroladas, isso nunca é uma parcela tão significativa do quanto pode se tornar algo incontrolável - e talvez ninguém conheça essa intensidade, isso é algo controlado por nós, ainda que tenhamos que travar uma luta intensa contra nossos hormônios, que resolvem deixar o intenso cada vez mais infinito. Ainda assim, a gente torna isso suportável. Passei longos meses indo ao hospital no mínimo quatro vezes por mês, e conheci muito mais pacientes oncológicos mulheres do que homens, e eu não vi fraqueza em nenhuma delas. Eu via esperança, eu via uma fortaleza cheia de certezas e planos em cada uma que eu conversei e, ás vezes, talvez um pouco de cansaço. Na verdade, a gente só tem uma película mais fina, que protege as emoções de se espalharem que os homens, mas, como contraponto existe uma capacidade infinita de se restaurar, de se recuperar e de se esconder atrás desse conceito de que eu-somos-mais-fortes-que-os-homens. Somos iguais, mas lidamos com as mesmas dores (físicas ou emocionais) de formas diferente.

Eu conheço mulheres que podem ser infinitamente fortes, mas que são só um pedaço do que tem potencial de ser e, ainda assim, parecem gigantes. Não consigo ver fragilidade aí.

makes sense

Toda vez que eu ouvia a expressão “nada é por acaso” eu questionava se essa frase realmente fazia sentido. Basicamente porque eu sempre fui fatídica ao afirmar que cada um é dono do seu destino e por isso tem as rédeas dele. E, sendo dona do meu destino, eu o traçava. Não acreditava muito nessa velha máxima citada no início. Pura bobagem pra mim, até então. Nessa época, acreditava que tudo dependia somente das nossas escolhas. Só as minhas escolhas é que desenhariam as “cenas do próximo capítulo” na minha vida. Achava isso excitante. Na minha cabeça, dependia só de mim e das minhas escolhas para guiar meu destino. Pensando nisso hoje, por acaso, percebi que definitivamente isso não se encaixa mais na minha vida. Hoje eu enxergo esse tema com uma delicada controvérsia. Ainda acredito que podemos interferir nos nossos destinos, mas só isso. Não consigo acreditar que eu dependa só de mim, muito menos que eu possa traçar ele, baseado nas minhas escolhas. Hoje eu vejo isso, dessa maneira que descrevi, de um egoísmo tipicamente meu, de adolescente. Coisa, que aliás eu sempre me orgulhei. Percebi, revirando as memórias, que tudo que eu mais queria quando pensava dessa forma, era justamente ser madura o suficiente para deixar de pensar assim. Eu sempre tive um orgulho meio torto desse tipo de pensamento. Pensando nisso, e avaliando isso tudo percebi o quanto a vida conseguiu fazer com que eu amadurecesse, de uma forma que, tendo as rédeas, eu não seria capaz. Hoje eu aceito o fato de que eu não sou tão dona do meu destino, quanto pensava que fosse e que eu não sou responsável, sozinha, por ele. Consigo ver que, realmente, em boa parte dele eu tenho influencia, e somente isso. As decisões alheias nos afetam, mais do que a gente pode perceber e, ainda existe uma força maior, que cada um dá um nome, seja Deus, Jah, Cosmos, as estrelas ou uma vibe boa, que fica só na espreita, observando o momento de entrar em ação e mostrar que quando a gente pensa que sabe tudo, que tá no comando, que exerce poder total sobre suas escolhas e que entende tudo o que precisa sobre a vida, ta na hora de aprender uma coisa nova: a vida é a única dona do nosso destino.

Apenas Mais Uma de Amor

Eu gosto tanto de você que até prefiro esconder, deixo assim ficar subentendido como uma ideia que existe na cabeça e não tem a menor pretensão de acontecer. Eu acho isso tão bonito de ser abstrato, baby, a beleza é mesmo tão fugaz. É uma ideia que existe na cabeça e não tem a menor pretensão de acontecer.

Pode até parecer fraqueza, pois que seja fraqueza então. A alegria que me dá, isso vai sem eu dizer. Se amanhã não for nada disso, caberá só a mim esquecer. O que eu ganho e o que eu perco ninguém precisa saber.

Oro a Deus

não pedindo cargas mais leves, e sim ombros mais fortes. E tenho repetido que no que depender de mim, me recuso a ser infeliz. As coisas vão dar certo. Vai ter amor, vai ter fé, vai ter paz – se não tiver, a gente inventa. CFA

Quando os fogos começaram

eu tive o impulso de desejar que aquele momento durasse pra sempre. A tua mão na minha, segurando forte, os pés na água do mar, o sorriso, a alegria, os abraços e o desejo de que ficássemos desse jeito por muito, muito tempo; pedi que isso tudo durasse pra sempre. Não consegui desejar, pensar, querer, lembrar nada além disso. Freqüentemente, mesmo que sem os fogos, desejo em silencio, só pra mim enquanto te observo, que esse “nós” dure pra sempre, e se não for possível, que dure o máximo que nós conseguirmos alimentar. E se, ainda assim não for possível ou for tempo demais, eu tenho um pedido a fazer: Quero que, sempre que for segurar minha mão, seja daquela forma, com a mesma força, com o mesmo carinho, com o mesmo afeto e me passando a mesma segurança. Eu sei que, talvez pelo acaso ou pelo destino, esse sempre possa não ser eterno, então por favor, faça eu me sentir assim até o dia amanhecer.

welcome 2012

Só posso dizer que acabou,e que eu nunca vou esquecer esse ano. As cicatrizes no corpo e na alma não deixarão. Mas eu posso dizer que eu vi uma força que eu não fazia ideia de que existia, florescer, vi um monte de gente engrandecer, desaparecer e reaparecer na minha vida trazendo amor. Vi o medo aparecer em gente que eu amo, e a medida que ia aparecendo neles, ia sumindo em mim, e junto a isso uma garra que, sinceramente, eu não fazia ideia de que pudesse existir em uma só pessoa. Consegui reviver momentos e esquecer de tudo, me preparar pra aprender a viver o agora.... Nada mais importa tanto quanto o agora. Espero que esse ano novo me traga alegrias, na mesma proporção que o ano que passou me trouxe de aprendizado e, além disso tudo, eu espero que esse ano traga alegrias em dobro, pra todo mundo que permitiu que eu me tornasse forte.

Eu odeio isso.

Odeio isso porque foge totalmente do que eu posso segurar nas mãos ou que eu possa dizer chega. Não posso parar, não consigo parar e eu odeio isso. Não acho nem um pouco justo comigo saber tudo que eu posso de ti, tudo que tu gosta, as musicas que tu escuta e o que tá fazendo das tuas férias e tu simplesmente não saber absolutamente nada de mim. É ridículo eu relacionar qualquer música que eu ouça a alguma coisa que seria bom acontecer, mas que nunca vai acontecer, por que eu simplesmente não tenho a menor coragem de dizer o que eu sinto com palavras, na tua frente te olhando e percebendo tuas reações. Sei onde te encontrar, vou ao teu encontro, mas inacreditavelmente eu me prefiro me esconder e te observar de longe. Eu faço tudo errado quando o assunto é você, e acredite, eu sei exatamente como seria fazer o certo, mas... i can't do it. E é isso que eu mais odeio em toda essa estória nossa: estar tão vulnerável ao ponto de fazer tudo errado e ainda sorrir incansavelmente pensando em ti.

Sabe,

eu não gosto de praia. Eu sempre vou, mas nunca entro no mar. Fico sentada, na sombra, observando toda aquela imensidão e as pessoas indo até onde a sensatez permite, pra não se afogar. Eu prefiro realmente ficar ali sentada. Não sei molhar a ponta dos pés sem sentir vontade de mergulhar de cabeça e não sei medir até onde eu devo ir sensatamente. Eu preciso ir até onde eu posso e isso não é sensato o bastante pra quem nada muito pouco. Eu definitivamente não sei ver toda uma imensidão de possibilidades e ter que optar por ficar na beira delas só pra não me afogar. Melhor nem ir, então. Minha mãe sempre diz que eu sou boba de ir e não aproveitar o mar, mas eu realmente prefiro ficar de fora e observar o quão perto do fundo do mar as pessoas podem chegar e não chegam por precaução, por cautela ou por medo. Não sei ser assim. Não sei molhar os pés e ir embora, ir até onde a água bate no joelho e ficar satisfeito, deixar a água bater no peito e voltar para a areia. É angustiante estar ali, perto do fundo, perto de conseguir mergulhar, afundar, boiar, nadar e simplesmente voltar. Ou eu mergulho de cabeça ou eu nem molho os pés.

“Deus nunca dá uma dor maior do que a gente pode carregar”

foi a frase que eu mais escutei nesses últimos seis meses. Aliás, esses últimos seis meses foram surreais. Eu passei por todas as sensações físicas e psicológicas que eu nunca esperei passar. Senti amor de gente que eu nunca imaginei receber e consegui ver quem continuou atrás do bloco. Não existe coisa mais louca e mais boa do que conseguir enxergar tudo isso. Aliás, existe: saber que tem gente por ti, no momento em que tu realmente precisa – e como eu precisei. Eu nunca fui boa nessa coisa de demonstrar tudo que eu sinto, por que eu nunca aprendi na prática como se faz.

A primeira coisa que eu pensei, inevitavelmente foi “por que eu?”. Agora, eu consigo pensar: “por que NÃO eu?”. Aprender consigo mesmo e conhecer os verdadeiros limites, que eu digo, vão além do que se imagina, muito além. Aprender a viver cada dia, se preocupar com o hoje e admirar o que se consegue por esforço próprio, por amor, por amizade, por vontade de viver.

Eu conheci tanta gente, eu vi tanta coisa e eu experimentei tantas emoções que eu sinceramente não sei explicar. Não sei que força é essa que surge, não sei que medo é esse que some, não sei que vontade de virar o jogo é essa, só sei que acontece, e é incrível.

“40% vai ser medicação, 60% vai ser tu” meus 60% foram divididos por todo mundo que de alguma forma, qualquer forma, me ajudou, sabendo ou não do que tava acontecendo.

Agora é reta final e é ficar boa logo pra retribuir tudo isso. TUDO.

Quando eu tava entrando na adolescência

rolava um ritual quase que sagrado entre minhas amigas: toda saída que davam, deveriam ter pelo menos um nome de garoto beijado naquela noite para escrever nas suas famosas (e extensas) listas de ficadas. Não ter um nome novo era por um nariz de palhaço e agüentar risadinhas e eu, sempre agüentando essas risadinhas e as teses e questionamentos de porque eu sempre era a única a nunca ter um nome novo. Na verdade nunca me importei em sair e não beijar uma dúzia de desconhecidos, achava, bem no fundo e escondido pra mim, vulgaridade em demasia, libertinagem gratuita pra QUASE adolescentes que éramos. Possivelmente devido a não me enquadrar em nenhum padrão de beleza, já que sempre fui acima do peso, meu cabelo nunca foi liso e minhas bochechas são enormes, desenvolvi outras importâncias pra minha vida. Era (e ainda é) muito mais importante uma boa musica e uma boa companhia pra conversar e falar sobre tudo e nada, do que só uma boa boca pra beijar que eu nunca vi e talvez nunca mais queira ver. Minha vida sentimental sempre foi contraditoriamente bagunçada: seguidas paixões e poucos romances. Ainda que sendo pressionada pelo ritual sagrado das amigas, nunca me senti a vontade de sair por aí beijando qualquer um. Na verdade a gente entende, quando amadurece, que muito mais vale a qualidade que a quantidade. Vez ou outra, quando converso com as amigas dessa época, elas comentam “lembra do fulano que eu fiquei aquela vez?” e é obvio, eu não lembro. Não sei o quanto valeu a pena aquela “diversão toda”, mas a mim nunca fez falta. Talvez por estar fora dos padrões, eu me acostumei a não ter todas as opções que eu queria. A maioria dos meus romances foram desastrosos e eu sempre tive um “gosto” que não era compatível com a pirralhada que freqüentava os mesmos lugares que nós. Nessa idade que eu citei aqui, a gente sempre ta querendo provar alguma coisa pra alguém. No meu caso o primeiro beijo foi a síntese disso: só dei o beijo pra provar que eu podia, assim como foram a maioria dos casos da época que eu andava com essas amigas. E, mesmo tendo plena consciência de que era babaca essa atitude eu fazia, em uma freqüência bem menor do que a demanda de aprovações pela qual eu passa, é verdade, mas ainda assim fazia. Mas isso tudo me fez amadurecer melhor, e mais rápido do que a amigas que hoje tão casadas, embarangadas e levando suas incríveis vidas de donas de casa. Já diria o sábio: cada um tem o que merece.

Por favor, mente




hoje eu sou seu pra sempre
se eu perguntar
por favor mente
e fala tudo que você não sente
por favor mente
que a sua mão vai ser a minha luva
se a solidão é um dia de chuva
você vai me abrigar
sobre tudo, sobre todas as coisas
me ame até o fim da vida
mesmo que seja só até o dia chegar
depois talvez nem eu mesmo lembre
das juras eternas que a gente trocar
da cor preferida, ao nome dos filhos
e que eu já fui teu pra sempre
um dia eu fui teu pra sempre
eu já fui teu pra sempre
um dia eu fui teu pra sempre
um dia eu fui teu pra sempre
que eu já fui teu pra sempre
pra sempre...


Tom Bloch

Tava olhando umas fotos velhas,

lendo uns textos antigos e me conhecendo. Pra isso que serve um arquivo. Guardar o que eu penso ser pra mais tarde vasculhar e perceber que nem eu mesma me conheço. Ou lembrar o quão otária eu posso ser. Comigo, pelo menos, é assim. Sempre tive uma pose auto-suficiente quando de tratava de sentimentos, principalmente amor. Sabe aquele tipo que diz NÃO QUERO, com cara de quem não quer mesmo e pensando incansavelmente que quer? Prazer. Todo esse tempo eu posando de quem não tem máscaras com a máscara mais cara de pau da face da terra porque nunca pude sentir de volta todos os milhares de amores que eu tive. Lutava contra porque alimentar seria burrice. Platonismo demais pruma reles mortal. Agora que PODERIA ser um pouco mais real, a vida me fez insignificantemente igual a tudo que ele poderia ter e não quer. Me fez rotina, me fez um enfeite de canto, daqueles tão comuns que a gente só percebe quando vai limpar – quando lembra de limpar. Daqueles que cria pó de tão invisível que é. Isso é mais uma das incansáveis lições que a vida resolveu guardar pra mim. Ela deve pensar: ‘cê não é de pedra? Guenta esse amor de verdade, então’.

Fraquejar...

Esse sempre foi um dos meus medos bobos. Sei lá, não me sinto a vontade admitindo que eu perdi porque fui fraca, acho ninguém se sente, na verdade. Não me permito fracassar, nem me sentir fraca, fico insistindo naquela coisa que me faz sentir que eu to errando, que é mais forte que eu e que me feria fracassar até que isso não seja mais um obstáculo. Obsessivamente. Compulsivamente. As vezes eu me permito por pra fora isso, mas é sempre muito breve perto do tempo que eu passo lutando contra mim mesma. Eu sempre fiz isso, sempre agi assim e não consigo por um segundo se quer imaginar uma solução pra essas lutas ridículas que eu traço contra mim. Queria poder conseguir parar de me testar nesse ponto, mas acho que é impossível. Eu não me deixaria desistir de ver até onde eu posso chegar.

Nunca me senti a vontade

de chorar na frente de ninguém. Quando eu sinto algo que seja tão forte que me cause o choro, eu me sinto vulnerável demais. Nos últimos tempos eu andei chorando bastante- menos do que foi preciso – e na frente de várias pessoas e eu percebi a verdade de por que eu nunca gostei de chorar na frente de ninguém: Não tem nada a ver com se sentir vulnerável. A gente fica vulnerável pelo que causa o choro, tanto que causa o choro, e não por que se esta chorando. Tem a ver com sentir que quem me vê chorar fica sem reação, sem saber o que dizer, sem saber o que sentir, o que falar. A gente enfraquece a outra pessoa chorando. Por isso eu sempre preferi engolir o choro. Além de ser desgastante, dar dor de cabeça e deixar o rosto inchado, chorar desata tudo que tem de ruim em mim. Limpa tudo, mas a sensação de desespero de ter deixado tanta coisa ruim acumular e deixar sair tudo de uma vez é terrível. Parece que não acaba mais, que eu não vou parar nunca de lembrar de tudo que eu acumulei e não desabafei no momento que aconteceu. Mas passa, e depois eu fico melhor, como todo mundo. Todo mundo faz isso, não é? Quer dizer, agora, por exemplo... deve ter alguém com os olhos doendo, o nariz escorrendo, a cara inchada e uma dor de cabeça sacana, como eu, dando um jeito de liberar essa coisa ruim que a gente insiste em guardar pra depois sabe-se lá por que. É coisa de louco mesmo... guardar coisas ruins, acumular e esperar o momento pra desaguar isso tudo num choro compulsivo e as vezes sem o menor motivo, mas aí uma coisa vai ligando a outra, e todos aqueles momentos que a gente não se permitiu chorar por que se julga forte demais pra isso perdem o sentido e a gente desaba. Tipo agora. Aí a gente fica tentando arrumar um motivo, uma distração pra parar de chorar ou se entrega de vez e acha coisa pra se afundar mais ainda. Eu faço os dois. Me jogo, me afundo na pior fossa que pode existir, por que eu sei que um momento desses de deixar o choro correr pode demorar acontecer de novo, e depois eu procuro algo que me disperse e me prenda pra que eu pare de chorar, me distraia e daí sim, eu possa sentir o alivio que o choro desesperado pode trazer. Aí eu começo a escrever. Funciona, sabe. Funcionou agora, por exemplo.

Sabe,

eu tenho uma duvida sobre o destino que talvez eu nunca obtenha uma resposta satisfatória: Por que ele arremeça as pessoas no nosso caminho? O destino não deveria ser aquela coisa que já é determinada, já ta escrito e traçado? Pra que essas mudanças repentinas? Essas pessoas difíceis, as vezes impossíveis, PRECISAM mesmo passar pelo caminho, cruzar ele como quem atravessa a rua e sair na primeira oportunidade? Só deveriam passar pelas nossas vidas as pessoas que realmente devem ficar. Principalmente quando nos fazem bem. Mas aquele bem que a gente sente só de ver sorrir. Seria menos complicado, visto que o destino já prega cada peça na gente... Já é uma imensa crueldade dele nos fazer lidar com o amor não correspondido ou ainda com aqueles amores que não são exatamente o que a gente imaginava. Agora... Não faz o menor sentido jogar as pessoas no meio da nossa vida por acaso e desistir delas. Então deixa de fora, lá de longe... Eu ia olhar e nem ia ligar: não faria parte do meu mundo. Agora é tarde.
"Quando vejo, estou calada novamente, ouvindo o que você não diz e vendo o que você não faz." Tati Bernardi.

“Se você tivesse chegado antes,

eu não teria notado. Se demorasse um pouco mais, eu não teria esperado. Você anda acertando muita coisa, mesmo sem perceber. Você tem me ganhado nos detalhes e aposto que nem desconfia. Mas já que você chegou no momento certo, vou te pedir que fique. Mesmo que o futuro seja de incertezas, mesmo que não haja nada duradouro prescrito pra gente. Esse é um pedido egoísta, porque na verdade eu sei que se nada der realmente certo, vou ficar sem chão. Mas por outro lado, posso te fazer feliz também. É um risco. Eu pulo, se você me der a mão.” - Verônica H.